Nos últimos anos, o termo "Woke" ganhou destaque no cenário corporativo global, representando uma postura consciente e ativa em relação a questões sociais, como diversidade, equidade e inclusão. No entanto, recentemente, temos observado uma série de depoimentos de CEOs que colocam em xeque o comprometimento real das empresas com essas causas.

Em 2024, uma pesquisa revelou que muitas corporações adotam práticas de diversidade apenas como estratégia de marketing, sem implementar mudanças estruturais significativas. Programas de inclusão, antes considerados essenciais, estão sendo questionados e revisados — e nem sempre para melhor.
Matérias como a publicada pela Forbes Brasil, agora em fevereiro de 2025, intitulada "Wall Street reduz programas de diversidade: veja as empresas que estão recuando no tema", mostram que essa tendência não é isolada. Bancos de investimento e grandes corporações estão reconsiderando suas iniciativas de diversidade após pressões políticas e críticas sobre o real impacto dessas ações.
Pautas de Pluralidade: Tudo Nebuloso
A promoção da pluralidade nas empresas deveria ser um reflexo de um compromisso genuíno com a inclusão. Contudo, o que se percebe é uma nebulosidade crescente em torno dessas iniciativas. Programas de diversidade são lançados com grande alarde, mas carecem de transparência e eficácia. Empresas que antes eram referência estão agora revisando seus compromissos sob o pretexto de "focar na meritocracia" ou "priorizar a performance".
De acordo com a reportagem da Forbes acima, gigantes como Goldman Sachs e Morgan Stanley estão entre os que revisaram ou reduziram seus programas. O argumento? Evitar ações judiciais e críticas de grupos que consideram as políticas de diversidade uma forma de "discriminação reversa".
Essa reversão traz à tona um questionamento essencial: será que as empresas realmente acreditaram nas pautas de diversidade ou apenas aderiram a elas para atender às expectativas de mercado e investidores?
Grandes Empresas: tumores malignos para a real diversidade?
As grandes corporações frequentemente se posicionam como defensoras da diversidade. No entanto, suas práticas internas podem contar uma história diferente. Em vez de serem agentes de mudança, muitas vezes atuam como barreiras, perpetuando estruturas que impedem a verdadeira inclusão.
O problema se agrava quando iniciativas são tratadas como meros "checklists" para relatórios de ESG (Environmental, Social, and Governance) ou como forma de evitar críticas públicas. A retirada ou redução de programas não apenas interrompe avanços, mas também envia uma mensagem preocupante às minorias: a diversidade é importante... até deixar de ser conveniente.
O que está por trás dessas retiradas das pautas de diversidade?
Mas afinal, o que está por trás desse retrocesso? A polarização política e as pressões do mercado são apenas parte da equação. Há também um cansaço por parte das lideranças com a "burocratização" de iniciativas que, segundo alguns CEOs, não mostraram resultados concretos no curto prazo. Isso revela um entendimento equivocado sobre o tempo necessário para mudanças culturais profundas.
Outro fator preocupante é a influência de setores mais conservadores, que veem a agenda da diversidade como "exagerada" ou "desnecessária". A decisão de Wall Street pode abrir um precedente perigoso para outras empresas que estavam apenas "surfando" na onda da inclusão.
E quem perde com isso? Pessoas que, por anos, lutaram para conquistar espaços em ambientes corporativos historicamente excludentes. Mais do que isso, empresas perdem a oportunidade de inovar e se conectar com mercados diversos — algo comprovadamente lucrativo a longo prazo.
Trump vs. CEOs: A Batalha pelas Políticas de Diversidade

A ascensão de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos trouxe consigo uma série de medidas que impactaram diretamente as políticas de diversidade nas empresas. Desde sua campanha, Trump prometia acabar com as iniciativas DEI. Ao assumir o cargo, rapidamente revogou uma ordem executiva de 1965 que proibia a discriminação por raça, sexo e nacionalidade em contratações do governo federal. Além disso, colocou servidores federais ligados a programas DEI em licença administrativa, enquanto desmantelava seus departamentos.
Antes mesmo da posse, grandes corporações como Meta, Walmart e McDonalds já haviam reduzido ou encerrado seus próprios programas DEI. No entanto, muitos líderes empresariais resistem à pressão e reafirmam o compromisso com essas iniciativas.
O que dizem os CEOs?
Citigroup
Jane Fraser, CEO do Citigroup, anunciou recentemente que o banco não exigirá mais uma lista diversificada de candidatos para entrevistas de emprego e eliminará metas de representação aspiracionais, exceto onde exigido por lei. Além disso, a equipe de "Diversidade, Equidade e Inclusão e Gestão de Talentos" será renomeada para "Gestão de Talentos e Engajamento". Essas mudanças refletem o novo clima de negócios nos Estados Unidos sob a administração Trump. Veja a mátéria: reuters.com
Goldman Sachs
O Goldman Sachs reverteu sua política que exigia que empresas dos EUA e da Europa Ocidental tivessem um número mínimo de membros diversos no conselho para abrir capital. Originalmente estabelecida em 2020, a política exigia pelo menos um membro diverso no conselho, posteriormente aumentada para dois, incluindo uma mulher. Essa mudança ocorre após uma decisão judicial nos EUA que invalidou uma regra semelhante da Nasdaq. - Matéria: ft.com
JPMorgan Chase
Jamie Dimon, CEO do JPMorgan Chase, afirmou que cortaria custos "estúpidos" relacionados a programas de diversidade, equidade e inclusão, enfatizando que a decisão é uma medida de redução de custos e não uma resposta à reação negativa contra iniciativas DEI.
Como as pequenas empresas podem se salvar desse movimento de retrocesso? Saiba mais na segunda parte desta análise no dia 14 de março de 2025
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